Saiba avaliar o por quê de ter em seu quadro de funcionários uma pessoa com mais de 60 anos
Hoje já é uma realidade que os idosos continuam no mercado de trabalho mesmo após se aposentarem, seja por necessidade ou para se sentirem uteis. Com isso, cresce o número de pessoas com mais de 60 anos que também retornam às aulas de aula para cursarem mais uma faculdade ou os que estão adentrando neste universo pela primeira vez.
Quando esta faixa-etária está estudando, eles precisarão, dependendo do curso, como o de Direito, estagiarem nas empresas. E aí entra a visão dos donos de companhias em enxergarem neste fator uma oportunidade de negócio, além de estarem fazendo o bem às pessoas dessa idade, que ainda têm muito a contribuir com suas experiências de vida.
Pesquisa CIEE
No ano passado, um estudo realizado pelo CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) revelou em seu banco de dados a presença de 96 estagiários com mais de 60 anos. Este número resulta em 1,5% do total da população do país.
Os estados da Bahia, Pará e São Paulo foram os locais onde surge a maior procura por universitários da terceira idade. As companhias que os contrataram são ligadas a atividades dos cursos de direito, pedagogia e serviço social. A pesquisa ainda mostrou que em 2018 a taxa de idosos no mercado de trabalho era de 7,2% ante 5,9% seis anos antes. E 7,5 milhões de trabalhadores atuando só no ano passado.
Dados do IBGE e especialistas
De acordo com Reinaldo Gregori, sócio-diretor da Cognatis, consultoria especializada em geomarketing, analytics e big data, em entrevista à revista EXAME:
“O envelhecimento populacional é um fenômeno observado mundialmente. O fator que mais colabora para esse cenário é a redução das taxas de fecundidade, e não o aumento da expectativa de vida. Isso quer dizer que será preciso utilizar a mão de obra da terceira idade porque faltarão jovens no mercado de trabalho”.
Já o IBGE mostrou em pesquisa que a cada ano um milhão de pessoas chegam à idade considerada como fase da terceira idade.
O que as empresas devem levar em consideração na contratação
Como uma grande parcela tem a necessidade de ainda se sentir útil e não querer ficar parado em casa é importante para as companhias terem estas pessoas entre seus quadros de funcionários. A sabedoria, calma, e certas habilidades deles não são encontradas nos jovens estagiários.
Sobre isso, o médico Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade no Brasil, comenta:
“Além de continuar se relacionando socialmente, muitas pessoas da terceira idade desejam adquirir conhecimentos para participar mais amplamente do mundo”.
De volta à sala de aula
De acordo com o Censo da Educação Superior, em 2017 foi verificado que 18.900 idosos entre 60 e 64 anos estavam matriculados em universidades. Os acima de 65 já eram 7.800. Com isso, a demanda por trabalho que contrate esta faixa-etária tende a aumentar no país. Porém, ainda faltam políticas públicas que também contribuem para a entrada de mais pessoas da terceira idade poderem cursar o ensino superior.
Além disso, na visão de especialistas do setor, os idosos são mais concentrados no trabalho e não possuem aquela ansiedade dos jovens de início de carreira. Com isso, eles podem ser fundamentais em tomadas de decisões em momentos de crise, conseguem manter a união da equipe e também os influencia positivamente.
Infelizmente, as leis de estágio não obrigam as empresas a darem seguro saúde aos funcionários, o que para pessoas da terceira idade faz muita falta. No entanto, este período de estágio pode valer para a aposentadoria como parte de contribuição à Previdência Social.
Mais vantagens às empresas
Contratar pessoas com mais de 60 anos agrega valor social ao mercado de trabalho e à empresa em questão. Pois assim, é notado que não há discriminação de idade no quesito recolocação.
Além disso, já consta do Estatuto do Idoso que a população com mais 60 anos possa exercer atividade profissional. Elas têm de ser respeitadas quanto às suas condições físicas, intelectuais e psíquicas. Também é proibido que haja discriminação e limite máximo de idade para atuar em tal cargo, com raras exceções, como questões de saúde que impossibilite algumas tarefas.
As companhias que contratam trabalhadores de diversas etnias, gêneros e idades distintas promovem uma diversidade geracional. O resultado pode ser aumento de seus lucros, além de inovação nos negócios.
Capacitação
Como muitos idosos não são familiarizados com recentes tecnologias é importante as empresas investirem em capacitação profissional. Pois, com as dúvidas em relação a aprovação das reformas do atual governo, é notório que os idosos terão que permanecer no mercado de trabalho por muito mais tempo, segundo a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ana Amélia Camarano. Ela conclui:
“O Estado tem de estimular programas de profissionalização para a terceira idade, sobretudo a mais carente, e criar condições para que as empresas aumentem o número de contratados dessa população, mas na prática isso ainda não acontece”.
Camarano ainda ressalta que uma solução plausível seria as companhias reservarem vagas a candidatos da terceira idade. Segundo ela, uma emenda ao Estatuto do Idoso já está em debate no Congresso Nacional. O número de idosos deve aumentar muito nas próximas duas décadas e manter no quadro de funcionários pessoas com este perfil é uma questão de estratégia de mercado também.
*Foto: Divulgação