Mercado de Cannabis no Brasil atrai investidores, principalmente, por seu uso terapêutico; e pode chegar a US$ 197 bilhões até 2028, segundo estimativa da Fortune Business Insights
De acordo com a Fortune Business Insights, empresa especializada em estudos de mercado, a cannabis, tem atraído a atenção de investidores em razão, principalmente, ao seu uso terapêutico.
Além disso, o mercado global dessa planta pode chegar a US$ 197 bilhões até 2028, estima da Fortune Business Insights. Além do uso medicinal, a matéria-prima também é aproveitada em sua totalidade na fabricação de produtos para indústrias de: cosmética, têxtil, de alimentos e bebidas, e até na construção civil, o que justifica o interesse cada vez maior nesse segmento.
Mercado de Cannabis no Brasil
Entretanto, o mercado de cannabis no Brasil, mesmo que já tenha interesse de grandes empresários e executivos em investir neste segmento, é preciso que exista uma regulamentação que favoreça o ambiente de negócios.
Contudo, o projeto que trata desse assunto, encontra-se parado no congresso desde 2015. Mas, em outros países da América Latina estão mais a frente na questão de regulamentação da cannabis, favorecendo assim a atração de investimentos.
Ainda falta mais conhecimento e informação
Claudio Lottenberg, ex-presidente do hospital Albert Einstein e atual presidente do conselho da entidade, afirma que não há dúvidas sobre o potencial terapêutico da cannabis. Todabia, ainda é necessário superar a barreira da falta de conhecimento e de informações.
Lottenberg é um dos sócios da Zion MedPharma, de medicamentos produzidos com a substância. Outro sócio, Dirceu Barbano, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi quem assinou as primeiras autorizações para importação de cannabis no Brasil. Além de ser um dos responsáveis pela abertura do órgão à discussão da questão. Portanto, ele não teve dúvidas quando a oportunidade de investir no mercado de cannabis bateu à porta. Hoje, a Zion tem seu valor de mercado estimado em R$ 60 milhões.
Allan Paiotti, ex-diretor executivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, também entrou este mercado no ano passado.
“Quando tive contato com o mundo da cannabis medicinal, fiquei superimpressionado com seu potencial terapêutico e com o relativo atraso do Brasil nessa matéria. Aí, resolvi juntar as coisas.”
Ele refere-se à decisão de cofundar a Cannect, marketplace de produtos médicos e à base de cannabis, em que atua como presidente.
Insegurança jurídica para o mercado de cannabis no Brasil
Pela insegurança jurídica que cerca o tema – uma vez que a maconha, considerada ilícita no país, é uma das espécies da cannabis -, ainda não existe uma grande aposta no Brasil. Mas, a Hypera, maior farmacêutica do país, já protocolou pedido para a comercialização de produtos à base da substância e aguarda pela aprovação da Anvisa.
PL 399/15
Voltando à regulamentação, o projeto que trata do assunto, o PL 399/15, segue parado no Congresso desde 2015. Atualmente, todos os países da América Latina estão mais adiantados em relação à regulamentação da cannabis. Por exemplo, Uruguai, Colômbia, México, Argentina e Paraguai, já autorizaram o plantio em seus territórios, passo essencial para o crescimento do negócio.
Enquanto o Brasil não avança como os outros países, os fundos de investimentos deste mercado precisam recorrer às companhias listadas nas bolsas americanas. É o caso do fundo da XP. O BTG também entrou nesse segmento após a compra, no ano passado, da gestora Vítreo, que já tinha um fundo de investimentos voltado à cannabis.
Pioneirismo
Patrícia Villela Marino, casada com Ricardo Villela Marino, membro de uma das famílias controladoras do Banco Itaú, figura entre os principais investidores da cannabis no Brasil. Sua relação com o tema é antiga. Em 2010, ela liderou a criação da Plataforma de Política de Drogas, apoiada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para discutir o tema na América Latina. Em 2015, a plataforma transformou-se no Instituto Humanitas 360, que engloba este e outros assuntos de cunho social.
Ela afirma que já foi chamada de “maconheira rica inúmeras vezes”. Porém, em 2013, coproduziu o documentário “Ilegal”, sobre famílias que lutam pelo acesso à cannabis medicinal para seus filhos.
Hoje, ela investe em mais de dez empresas de cannabis que estão debaixo do guarda-chuva da primeira aceleradora desse tipo de negócio no Brasil, a The Green Hub, onde também figura como principal investidora. Sua carteira de investimentos é compartilhada com o marido.
Ela investe ainda em pesquisas que são urgentes e necessárias, tanto para desenvolver o mercado quanto para que o Brasil recupere o protagonismo que sempre teve na área da saúde. Para Patrícia, agora é o momento de as empresas fazerem a sua aposta.
“Não adianta simplesmente importarmos matéria-prima e colocarmos nosso rótulo para vender o remédio. É preciso apostarmos na pesquisa científica e produção nacional se a gente quer mesmo construir um projeto de nação.”
Legalização
Apesar de todas as polêmicas, o uso da cannabis vem sendo legalizado em vários países, após pesquisas mostrarem os efeitos positivos no combate a enfermidades como epilepsia refratária, mal de Parkinson e fibromialgia.
Por fim, mesmo que para uso recreativo, a cannabis vem ganhando status de “legal” mundo afora. É o caso de alguns Estados americanos, do Canadá e do Uruguai. E pesquisas revelam que a legalização não elevou o uso da maconha. Em alguns casos, até reduziu, como mostra um estudo publicado recentemente na revista Addiction.
*Foto: Unsplash