Balanço dos bancos do Itaú Unibanco e Banco do Brasil foram os vencedores, enquanto que Santander e Bradesco enfrentam dúvidas do mercado
A temporada de resultados do terceiro trimestre de grandes bancos brasileiros de varejo revelou um raro desalinhamento de estratégias no setor. Isso porque Itaú Unibanco e Banco do Brasil saíram como claros vencedores. Enquanto isso, Santander Brasil e Bradesco enfrentam dúvidas do mercado.
Balanço dos bancos
Entretanto, o balanço dos bancos, mais do que a diferença na última linha do resultado, com os dois primeiros atingindo ou superando previsões de lucro, e frustração com os dois últimos, o tom dos comentários pós-balanços indicou a percepção de que Itaú e BB possuem maior “visibilidade”. Ou seja, revelam o grande foco dos analistas em sentir se a gestão dos bancos conseguiu mostrar que tem o pulso necessário num ambiente que ainda promete muitas incertezas.
Itaú Unibanco
Contudo, o Itaú Unibanco foi que se aproximou mais das próprias previsões para 202. Sendo assim, ele foi recepcionado com reforço nas recomendações de analistas para compra das ações, após ter divulgado na véspera não só um controle maior do que os rivais na qualidade da carteira de crédito no terceiro trimestre, como também seus índices antecedentes indicarem que isso deve continuar na primeira metade do ano que vem.
Segundo relatório Mario Pierry e Flavio Yoshida, do Bank of America:
“As habilidades superiores de execução e comunicação da administração reforçam nossa visão de que o Itaú merece negociar com valor superior a seus pares.”
Já a equipe do BTG Pactual, liderada por Eduardo Rosnan, complementou o seguinte:
“O Itaú parece estar superando seus pares privados praticamente em todos os lugares. Vem gerenciando melhor sua carteira de crédito e sua gestão de ativos e passivos (…) e mostrando que o capitão, Milton Maluhy, tem total controle do navio.”
Linhas de créditos menos arriscadas
Todavia, entre outros fatores, analistas citaram como bases para o aumento de rentabilidade do Itaú Unibanco, para 21%, a concentração em linhas de crédito menos arriscadas. Isso inclui grandes empresas, e um rigor maior na concessão de empréstimo sem garantia, como cartão de crédito e pequenas empresas. Estas são justamente as linhas que mais sofreram num ambiente em que juros e inflação juntos concorreram para esmagar a renda disponível dos tomadores recentemente.
Banco do Brasil
Em relação ao Banco do Brasil, ocorreu algo similar, apoiado também por sua forte liderança no agronegócio. Neste caso, o banco entregou lucro muito acima da média, além de melhorar a previsão dessa linha e do crédito deste ano e ainda indicar ganho de margens adiante. É o que explica em relatório a equipe do Itaú BBA, liderada por Pedro Leduc, que reforça a visão positiva para 2023, mesmo diante das incertezas associadas à mudança no governo federal, controlador do banco.
“O salto de lucro no trimestre mostrou que bons fundamentos do BB são rígidos e em um momento completamente diferente (e melhor) do que alguns pares privados.”
Indicadores do BB
Já o conjunto de indicadores do BB, divulgado na última quarta-feira (9), ganhou força por ter vindo um dia após o Bradesco ter ido numa direção diametralmente oposta, duramente atingido pela alta dos calotes e pela segunda alta na estimativa de provisões de 2022, para um número 56% maior do que o esperado no começo do ano.
Em declaração a jornalistas, o presidente-executivo do Bradesco, Octavio de Lazari, “enfrentamos uma tempestade perfeita”. Ele disse isso horas antes das ações do banco encerrar em queda de 17%. E isso corta o valor de mercado da instituição em R$ 31 bilhões.
Portanto, como consequência, Citi e BTG cortaram a recomendação da ação do Bradesco, ao preverem lucros menores do banco para até 2024. Segundo Eduardo Rosman, e equipe do BTG:
“É difícil não acreditar que possa haver algo mais estrutural explicando a diferença de desempenho (em relação aos pares). A recuperação dos resultados e da confiança do mercado não será rápida.”
Santander Brasil
O Bradesco surpreendeu até mesmo aqueles que se frustraram com o balanço do Santander Brasil, há duas semanas. Isso porque ambos são vistos como os grandes bancos de varejo mais expostos aos chamados ciclos de crédito.
Além de lucro abaixo do esperado, o Santander também foi percebido por analistas do Safra com piora em várias linhas do balanço, como aumento nas provisões, margem financeira e receitas com serviços.
Por fim, o presidente-executivo do Santander Brasil, Mario Leão, sinalizou na apresentação dos resultados que a margem financeira permaneceria pressionando os resultados do banco em 2023.
*Foto: Reprodução