Gabriel Ribeiro que não era muito de folia, ao curtir um Carnaval nas ruas do Rio de Janeiro, teve a ideia de montar um bloco em São Paulo. O início foi mais uma ação entre amigos do criar um negócio. Por meio de parcerias e vaquinhas virtuais, vendeu catuaba, camisetas, canecas e ainda investiu seu próprio dinheiro. Nasceu assim, em 2016, o bloco Agrada Gregos.
Atualmente, ele é um dos megablocos que costuma arrastar uma multidão de 600 mil pessoas em seu desfile. Assim como demais blocos, Ribeiro e seus sócios, Armando Saullo e Nathalia Takenobu ampliaram seu projeto para além do Carnaval. E hoje atuam como empresários, organizando festas mensais, festivais e até mesmo reuniões entre possíveis patrocinadores e blocos menores.
O Agrada Gregos, em seu segundo ano de vida, já possuía contrato com patrocinadores e operava como produtora. Ao crescer mais ainda, o grupo passou a organizar festivais de música com o nome do bloco. Só o último foi capaz de encher o Estádio do Canindé em dois dias. Em junho, durante a semana da próxima Parada do Orgulho LGBT, terá um novo festival, novamente no Canindé, desta vez com mais de 60 atrações.
Carnaval como empreendimento para o ano todo
A experiência do grupo é tão grande que criaram ainda um bloco de música sertaneja, o Pinga Ni Mim, e também são parceiros na produção do bloco da cantora Pabllo Vittar. No primeiro ano, as despesas estimadas com o bloco foram de R$ 7 mil. Hoje, a estimativa fica entre R$ 90 mil e R$ 160 mil, com status de megabloco, que conta com a presença de artistas e equipe, como segurança, apoio e imprensa.
Ao perceber a dificuldade de novos blocos se conectarem a possíveis patrocinadores, o Agrada Gregos fundou o “Carna Business”. Sobre isso, Ribeiro explica à revista EXAME:
“Nosso objetivo é conectar marcas e blocos e ajudá-los a se estruturar. Nós promovemos uma rodada de encontros no último mês de novembro. Foi uma oportunidade para todo mundo falar do seu bloco para marcas interessadas em patrocinar o carnaval. Já estamos pensando em um próximo encontro nos mesmos moldes.”
Empreendedorismo
O Carnaval como empreendimento tem sido reconhecido fora de época e neste quesito destaca-se o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta. Eles começaram mais como uma brincadeira entre amigos durante um casamento em Paraty. Já no primeiro ano, cumpriu um trajeto entre duas casas noturnas, o Studio SP e o Sonique. Seu público era captado via Facebook.
Com uma década de existência, o bloco já atrai uma multidão de quase 1 milhão de foliões. Composto por profissionais liberais, jornalistas, publicitários, agitadores culturais e artistas, logo se tornou uma associação com sede própria. Com isso, a Casa do Baixo Augusra promove shows, ensaios de peças teatrais, exibição de filmes, lançamentos e festas, em que o Ale Nattaci, presidente da entidade ressalta:
“Nossa missão é manter acesa a programação cultural paulista.”
Entre seus criadores, Alê Youssef, é atualmente o secretário municipal de Cultura de São Paulo.
Outros blocos de Carnaval
Um bloco em homenagem ao cantor Caetano Veloso foi criado por meio de uma vaquinha virtual em seus dois primeiros anos, até ter seu primeiro patrocínio vindo de uma marca de cerveja. Hoje, o bloco Tarado Ni Você costuma atrair 100 mil foliões para as ruas do centro Ca capital paulista, com uma estrutura que emprega quase 200 pessoas, durante o período de desfiles.
Além disso, o Tarado mantém uma agência de eventos fora do Carnaval. Sua agenda conta com shows na rede Sesc, apresentações corporativas (para empresas) e até aparições em festivais internacionais. De acordo com uma das sócias do bloco, Raphaela Soares Barcalla:
“Carnaval não dá lucro, não vivemos só de carnaval. Cada organizador tem outros trabalhos para se manter.”
Já no caso do bloco A Espetacular Charanga do França foi criada a partir do trabalho do músico Thiago França. Apesar de não possuir o gigantismo dos outros blocos, por conta de se tratar de apresentações mais acústicas, a Charanga tem se firmado como uma das grandes atrações do Carnaval de rua de São Paulo.
Thiago criou uma oficina de sopro, que já formou aproximadamente 70 pessoas e são estes instrumentos utilizados em suas apresentações carnavalescas. Hoje, as oficinas se desdobram entre aulas de trompete e percussão.
Segundo França, as oficinas acontecem de maio a fevereiro, suas vezes por semana. Ele ressalta que os estudos custam em torno de R$ 70, mas que também há bolsas para quem não tem condições de pagar. Já parte das oficinas é custeada por eventos em que o Charanga toca fora do período de folia.
Fonte: revista EXAME
*Foto: Divulgação