Descarbonização no Brasil tem possíveis oportunidades; entenda o caso
Atualmente, o Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa (GEE). Além disso, possui um perfil diferente dos outros países que encabeçam a fila. Confira neste artigo um estudo da McKinsey que detalha perfil do país e possíveis oportunidades de descarbonização.
Descarbonização no Brasil
O estudo sobre a descarbonização no Brasil engloba o desmatamento ilegal graças a maior ‘contribuição’ dessas emissões, além de trazer análises de impacto socioeconômico. A pesquisa foca também em uma situação única no país: 95% da redução das emissões pode ser feita com um custo abaixo de $20 USD por tonelada de carbono. No entanto, as possibilidades de descarbonização podem ser aplicáveis a outros países e cenários, diz João Guillaumon, sócio da McKinsey.
Para ele, as principais alavancas de descarbonização, por setor, são:
- Uso de terra, mudança do uso da terra e florestas: redução de desmatamento ilegal e restauração florestal e ambiental;
- Agropecuária: Utilização de técnicas de manejo sustentável de animais (ex: melhoria da pastagem, monitoramento de saúde animal, redução na idade de abate, etc.), aplicação de técnicas de agricultura regenerativa (ex: Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, Agroflorestas, etc.) e uso de biodefensivos agrícolas;
- Transporte: Eletrificação do transporte de carga e de passageiros, uso de ônibus e caminhões elétricos (com baterias ou célula combustível) e aumento do uso de combustíveis sustentáveis de aviação;
- Energia: Aumento na utilização de fontes renováveis de energia, além da eletricidade;
- Indústria: Adoção de hidrogênio verde, adoção de bioenergia (como biometano e biocarbono), desenvolvimento de tecnologias de Captura, Uso e Armazenagem de Carbono (CCUS, na sigla em inglês) e melhoria na eficiência energética.
Net Zero 2050’
Ainda de acordo com a publicação, no cenário ‘Net Zero 2050’, ações ambiciosas são tomadas em todos os setores para descarbonizar a economia, incluindo a redução de desmatamento ilegal, adoção de práticas sustentáveis de manejo pecuário (ambos significam 80% dos abatimentos) e contenção do crescimento de emissões em outros setores. Nesse cenário, um preço de carbono de quase US$ 20 permitiria a transição. Contudo, isso exigiria US$ 80 bilhões em média anual de investimentos. Além disso, haveria uma contribuição de até 15 bilhões de dólares para o PIB e a criação de até 1,1M de empregos.
Segundo Henrique Ceotto, sócio da McKinsey:
“Enfrentar as questões que envolvem o uso de terra é uma parte fundamental da descarbonização do Brasil, e a velocidade em que o país for capaz de controlar o desmatamento ditará o ritmo no qual alcançaremos o carbono zero. O sucesso dessa empreitada é possível, na medida em que reduzir o desmatamento pode ser uma fonte de oportunidade econômica e de geração de co-benefícios para a sociedade e para o ambiente, incluindo a proteção da biodiversidade, a segurança hídrica, a criação de empregos e a geração de valor econômico. É preciso que o mercado reconheça a oportunidade e esteja preparado para investir e posteriormente capturar valor.”
Desmatamento
Já o nível de desmatamento representa em torno de 1/3 das emissões nacionais de GEE (31% em 2021, de acordo com o SEEG), se colocando como a principal fonte emissora do país. A estimativa é de que 94% do desmatamento ocorra de modo ilegal na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo e também o bioma brasileiro que concentra 80% das emissões provenientes da conversão de florestas. Ceotto ressalta ainda que para combater o desmatamento será necessário tratar temas de regulação fundiária, ao mesmo tempo em que se criem cada vez mais incentivos e negócios com alta geração de valor a partir da floresta em pé.
Menor emissão no Brasil
Uma das possibilidades para a menor emissão no Brasil é a promoção da agricultura de baixo carbono. Segundo o executivo, em sistemas de criação extensiva de gado, a recuperação de pastagens degradadas com forragem de alta qualidade poderia gerar um retorno de R$ 2,20 reais por cada real investido, por suportar o aumento do número de cabeças por hectare e o ganho de peso do rebanho.
Quais países mais emitem CO2 e o quanto eles representam globalmente
O estudo aponta os primeiros países da lista de maiores emissores com perfil de emissões voltado majoritariamente ao uso de carvão e outros combustíveis fósseis em sua matriz energética, especialmente nos setores de transporte, indústria e edificações, sendo eles:
- China, emite 12,1 GtCO2, representando 25% das emissões globais;
- Estados Unidos emite 5,8 GtCO2e, o que representa 12% das emissões globais;
- Índia e União Européia, emitem 3,4 e 3,3 GtCO2 respectivamente e são responsáveis por 7% das emissões globais, cada;
- Indonésia e Rússia emitem 2,0 e 1,9 GtCO2e respectivamente e são responsáveis por 4% das emissões globais, cada.
COP28
Com a proximidade da COP28, a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas, todos os países precisam trabalhar conjuntamente para a sustentabilidade do planeta.
Acordo de Paris
A implantação do Acordo de Paris e o estabelecimento de mercados regulados de carbono podem ajudar numa precificação comum e a colocar essas ações em prática. Para Tomas Nauclér, sócio sênior e líder global da prática de sustentabilidade da McKinsey, os principais desafios são definir a melhor forma de mensurar e rastrear emissões e absorções de carbono e estabelecer diretrizes para geração e comercialização de créditos.
Por fim, outra parte desse esforço deve vir da criação de novos negócios sustentáveis, com atuação em grande escala. “O Brasil tem vantagens estruturais que permitirão criar negócios, em diferentes setores, com impacto relevante na descarbonização tanto local quanto globalmente. Para isso, será necessário sermos ambiciosos e acelerar o crescimento dos novos negócios muito além do que vemos em empresas intensivas em capital”, afirma Ceotto.
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/vista-de-arvores-verdes-da-floresta-com-co2_31481258