Mercado livre de energia, segundo pesquisa realizada pela CNI, sugere que mais de 40 mil indústrias poderão migrar em 2024
A partir de 2024, mais da metade das empresas de alta tensão desejam migrar para o mercado livre de energia. O motivo é que hoje elas são obrigadas a comprar energia junto às concessionárias. É o que revela pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizada em outubro de 2022 com 2.016 empresas, sendo 794 pequenas, 724 médias e 498 grandes indústrias.
Segundo a CPFL Energia, o interesse pela migração é justificado devido aos inúmeros benefícios que as empresas possuem. No mercado livre de energia, a sua empresa tem redução de custos, devido à possibilidade de escolher seu fornecedor de energia, evitando a compra da energia na distribuidora. A economia neste ambiente pode chegar em até 30%, em relação ao custo atual.
Mercado livre de energia
Atualmente, aproximadamente 10 mil empresas industriais operam no modelo em que o consumidor negocia direta e livremente com as geradoras ou comercializadoras de energia. Além disso, conforme a Sondagem Especial Indústria e Energia, 59% das grandes empresas obtêm fornecimento do mercado livre de energia, sendo 52% exclusivamente desse mercado. Entre as indústrias de médio porte, 57% estão no sistema cativo, ante 25% que consomem energia exclusivamente via mercado livre. Já entre as pequenas empresas, 70% obtêm energia do mercado cativo e apenas 6% estão totalmente no mercado livre.
Como será a migração
As indústrias que migrarem para o mercado livre economizarão, em média, de 15% a 20% na conta de luz, segundo estimativa da CNI. Uma portaria editada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) determina que as companhias de enquadramento tarifário de alta tensão poderão migrar para o mercado livre a partir de 1º de janeiro de 2024. É o que explica Roberto Wagner Pereira, especialista da CNI em Energia:
“Este ano de 2023 será para estudar o mercado, planejar e fazer contas sobre a viabilidade de ingressar no mercado livre. Mais de 40 mil indústrias terão condições de migrar a partir de 2024.”
Ele disse ainda que como os contratos no mercado livre são negociados bilateralmente, as empresas conseguem preços mais competitivos. E que há companhias interessadas em migrar para o mercado livre em todos os segmentos industriais, apesar da disposição ser maior entre os grandes consumidores de energia.
Os números da sondagem mostram também que, entre as grandes empresas, 59% afirmam que há possibilidade de migrar para o mercado livre. Entre as indústrias de médio porte, o índice vai a 61% e, entre as pequenas empresas, 48% indicam a possibilidade de migrar.
Energia elétrica
Contudo, hoje, a energia elétrica ainda é a principal fonte de energia para 78% das indústrias brasileiras, seguida por óleo diesel (4%), gás natural (4%), lenha (3%) e bagaço de cana (2%).
Entre as regiões brasileiras, o Sul apresentou maior percentual de empresas apontando a energia elétrica como a fonte principal (85%). Além disso, ela é a principal fonte de energia para 81% das pequenas empresas, 79% das empresas de médio porte e para 77% das grandes empresas.
Aumento dos custos
Vale destacar que nos últimos 12 meses, o aumento médio dos gastos com energia elétrica no custo total de produção das indústrias foi de quase 13%. Para 75% das empresas, esse aumento teve efeito relevante sobre suas despesas, sendo considerado um impacto médio ou alto para 40% das empresas ouvidas.
Por outro lado, a pesquisa revela que as indústrias têm dado atenção a medidas voltadas à eficiência energética. A maioria (52%) passou a investir em máquinas mais eficientes. Entre as grandes empresas, esse percentual é maior – 63%. Já em relação às médias e às pequenas, os percentuais foram de 48% e 33%, respectivamente.
Segmentos industriais
Segundo os segmentos industriais, os investimentos em máquinas mais eficientes foram mais comuns entre as empresas da indústria extrativa (69%) e entre as da transformação (54%). Entre as empresas da indústria da construção, 31% afirmaram ter realizado investimento em máquinas mais eficientes.
Tendência vem dos últimos anos
Já o diretor de Energia Elétrica da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Victor Hugo Iocca, afirma que o levantamento mostra uma tendência observada nos últimos anos.
“O mercado livre de energia no Brasil só tem crescido. Mais de 30% do consumo já está no mercado livre. O principal motivo para esse movimento é a busca pela estabilidade de custos.”
Porém, ele ressalta que isso não quer dizer que, necessariamente, que há uma corrida por custo de energia menor no curto prazo.
“Esse é um provável efeito, mas as empresas querem uma garantia de estabilização na compra de energia no longo prazo.”
Consumidores
Já para Iocca, os consumidores que migram do mercado cativo para o livre possuem a garantia de que o custo de energia será mais competitivo. Entretanto, asseguram seu fornecimento no longo prazo. Outro ponto importante da nova onda de migração, diz ele, é a garantia da origem dessa energia.
Por fim, o diretor da Abrace disse que num contexto de transição energética, “a grande maioria dos novos consumidores, que está focada também na redução de suas emissões de gases de efeito estufa, vai ao mercado livre para ter acesso direto a um gerador de energia eólica, solar ou biomassa”.
*Foto: Reprodução/Unsplash (David Vives)