Pirâmides financeiras com criptomoedas se tornaram a “bola da vez”, revela André Portilho, head de Ativos Digitais do banco BTG Pactual
Cada vez mais o mercado brasileiro é composto pela associação de criptomoedas a um esquema de pirâmide financeira. É o que afirma André Portilho, head de Ativos Digitais do banco BTG Pactual, em uma entrevista à Exame na segunda-feira (30).
Pirâmides financeiras com criptomoedas
Além disso, o executivo reforça que as “pirâmides financeiras infelizmente fazem parte da nossa história” e que também são algo “muito mais característico do mercado brasileiro do que de cripto”.
“A gente teve boi gordo, teve avestruz, teve vários ativos “da moda” que são escolhidos para pirâmides financeiras. E isso é bem brasileiro até pela própria ‘volatilidade’ do brasileiro, que adora um bilhete de loteria. E se tiver tecnologia envolvida, melhor ainda. Fora do Brasil acontece muito pouco. O pessoal não cai mais nessa.”
Declaração em Davos
Contudo, o executivo do BTG Pactual entende também que o Brasil ainda está atrasado em relação aos debates sobre o potencial das criptomoedas e da tecnologia blockchain. Isso porque existe uma restrição aos criptoativos enquanto modalidade de investimento. Porém, em outros países a discussão sobre o potencial dos ativos digitais e da tecnologia blockchain já é mais ampla:
“No Brasil você tem muita discussão de exchange boas e ruins, de cripto como investimento e de cripto como infraestrutura. No Fórum foi mais amplo. Você tem muito mais a questão de blockchain em outras indústrias, além da indústria financeira. A parte de cadeia de produção, de sustentabilidade, e, óbvio, a parte financeira também. Mas a discussão no Brasil é mais restrita.”
Marco regulatório para as criptomoedas
Por outro lado, o executivo prevê que até o fim do ano o país terá aprovado o marco regulatório para as criptomoedas. Embora os trâmites ainda dependem da aprovação do PL na Câmara dos Deputados, da chancela da Casa Civil e do Banco Central, “as coisas estão se encaminhando para uma resolução rápida”, afirmou.
Ele disse ainda que o marco regulatório brasileiro guarda mais semelhança com o que está sendo proposto nos EUA. Ou seja, onde há uma disposição do Congresso para regular os criptoativos sem prejudicar a inovação, do que na União Européia, onde as criptomoedas estão sob ataque não apenas da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, mas dos próprios legisladores.
Criptomoedas em Davos
Portilho destacou que a edição do Fórum Econômico Mundial deste ano abrigou uma “Davos paralela” voltada exclusivamente aos criptoativos. E longe da programação oficial, vários representantes da indústria mantiveram encontros paralelos. Nestes encontros foram discutidos os rumos da indústria diante de um cenário global macroeconômico e geopolítico desfavorável:
“Há dois fenômenos que estão acontecendo agora. Primeiro a discussão muito da tecnologia, DeFi, finanças descentralizadas, Web 3.0, que nada mais é que cripto permitindo que a internet seja mais aberta, individualizada e impessoal. E, do outro lado, o que está acontecendo no mercado com um todo: inflação alta, aumento da taxa de juro, e provavelmente um ambiente pior para todas as empresas e fintechs de cripto como um todo, pois o capital vai secar um pouco. Então, de um lado uma discussão muito avançada no âmbito da tecnologia, sobre o que pode acontecer e mudar, e do outro eventualmente sobre a “secada” do capital abundante.”
Dados do CoinMarketCap
Desde o começo deste ano, a capitalização do mercado de criptomoedas perdeu US$ 883,2 bilhões, conforme dados do CoinMarketCap, o que representa um encolhimento de aproximadamente 40%.
Entretanto, o executivo avalia que tal redução deve-se antes à conjuntura macroeconômica e à fuga generalizada dos investidores dos chamados ativos de risco, como o mercado de ações e as próprias criptomoedas, do que a um declínio estrutural da indústria. Sendo assim, a alta correlação entre a ação de preço do Bitcoin (BTC) e o mercado acionário, principalmente com o Índice Nasdaq, tende a ser algo sazonal. E no curto prazo isso não deve mudar, afirmou o executivo.
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